Preâmbulo


Dividi o relato da maratona em 3 publicações, porque há tanta coisa para contar e partilhar, que mesmo assim penso que me vou esquecer de coisas importantes. 
Quando me inscrevi para a Maratona o ano passado em Dezembro, estava a passar por uma fase muito má da minha vida. Estava perdida e precisava de me reencontrar. Precisava de sentir que tinha aquela determinação que me caracteriza e de quem vai à luta. Duvidei de mim e das minhas capacidades... Nem sou rapariga destas tretas, mas acontece aos melhores. 
Sempre achei que os maratonistas eram o equivalente a super-heróis reais. A maratona é uma emoção para quem a vive – apoiantes e atletas – e não é por acaso que a chamam Prova Rainha. Já tinha andado a matutar na ideia de fazer a maratona, muito inspirada na minha querida Paula Capela, mas tinha de ser a altura certa, tinha de ser no tempo certo para mim. E oiçam aquilo que vos digo, sendo eu uma benjamim nestas andanças, escolham o vosso momento e não se deixem levar pelas massas. 
Como vos disse inscrevi-me nas promoções de Natal, com borboletas no estômago, e a partir daí começou o foco. A partir daí começou a ”minha maratona”. Há cerca de um mês, o Armando em conversa com o nosso querido massagista e “mister do mister” disse que eu comecei a correr há pouco tempo e aquilo não me fez logo sentido. “Caramba, mas eu já corro há imenso tempo”- pensei eu para os meus botões. Na realidade eu corria, mas não corria. Não corria com foco, com treinos de qualidade e tendo em conta os meus objetivos. 
No total foram 1080 km percorridos nesta primeira Maratona. Muitas horas de treino, muitos dias de calor, muitas horas em dívida à cama/sofá. Foram 16 semanas de treino, em que tirei uma semana e meia de descanso, porque estive doente e o meu cérebro se esfrangalhou e como sou chique fui fazer terapia à Madeira (no próximo esquema de treinos talvez vá aos Açores).  
Vamos agora fazer uma aceleração até à semana antes da maratona. Portanto, os treinos corriam às mil maravilhas, super leves e rápidos, pernas porreirinhas, dente a guinchar (antibiótico e elixir regulares) e entretanto a minha dor no dedo do pé (que se tinha tornado crónica) desapareceu. Já confessei a algumas pessoas mas, na quarta-feira antes da maratona, tive um momento “lágrima ao canto do olho”. Pensei que agora que me sentia perfeita e pronta a voar, tinha a dor de dentes que me estava de alguma forma a prejudicar. Muitos ficaram preocupados também com o efeito que o antibiótico poderia ter... Podia ter ficado a chorar enrolada em posição fetal, mas disse para dentro “Dente, tens 3 dias para te pores fino! Já te armaste em vedeta, já ganhaste banhos de spa, leia-se elixir, mas a nossa relação tem os dias contados e, por isso, tem um bocadinho de dignidade e vamos terminar a bem”.
Falemos agora de restrições alimentares... Eu gosto de comer. E tenho fome! Sempre! Muita! Eu sou uma gorda de cérebro! Aproveito para dizer que se alguém quiser enviar comida como forma de celebrar esta primeira maratona, sinta-se à vontade! Eu sou esquisita, mas arrisquem! AHAHAH Dito isto, comecei a treinar para a maratona e pensei que ia ficar super mega elegante, assim a dar para o magra, mas a comer que nem uma mula. Não aconteceu! Senti-me enganada, como nas eleições! Não satisfeito com esta propaganda enganosa, o Armando decidiu que na semana antes da maratona, temos de fazer uma alimentação específica. Entenda-se por alimentação específica: PASSAR FOME! Pode ser que esteja a exagerar um bocadinho, mas é ultrajante. Então e a massa?! Então e o comer como um homem? Então e a história de que saco vazio não pára em pé?! Mentiras que contam para nos atrair para este mundo... quando nos têm já bem agarradinhos... TAU... tiram-nos os doces na boca (literalmente). Bom, claro que com isto tudo, acabei por baralhar as indicações todas e esqueci-me de que sexta era dia de beber muita água com isotónico... podia ter sido sub 3 horas... mas estava subhidratada... 

Eu, o João e o Gonçalo a dar tudo no elevador

Fui para o Porto, com o Gonçalo e com o João, na sexta-feira para me adaptar ao fuso horário. A casa onde ficámos era fantástica e cheia de frases motivacionais: perfeita para preparar o espírito. Nessa noite, juntaram-se a nós o Adelino e a Ana e o grupo ficou completo. Dica: quando marcarem alojamento o mais importante é o número de casas de banho; nesta casa tivemos a surpresa fantástica de termos duas casas de banho com duche e uma social (sanita e lavatório), perfeito para quem se quer despachar (quem corre irá perceber o raciocínio)!

 
Quartos motivacionais

Na manhã seguinte, tínhamos o nosso treino de ativação e juntámo-nos ao treino organizado pela Compressport. Quando participei na breakfast run em Barcelona, fiquei com a mesma sensação: estes treinos são muito divertidos e mais do que ativarem as pernas, ativam aquele burburinho de entusiasmo para o dia seguinte. Vi um pouco do percurso que nos aguardava no dia seguinte e ainda ganhei uma fantástica pala! Nota: vou ter de sortear a pala porque tem um defeito de fabrico; eu sou daquelas miúdas que qualquer trapinho me cai bem, mas esta pala... bom podem ver nas fotos que não me faz propriamente a última bolacha do pacote (defeito dela, óbvio!). 


A tragédia das palas

Acabado o treino e depois de um banho rápido, era altura de seguir para a feira da maratona, comprar uns ténis novos (ups, não resisti) e tirar as fotos da praxe. Viver a experiência completa, lembram-se?! 

 
Equipa maravilha (incompleta)
O resto do dia foi passado a comer e a passear. E que bela cidade é o Porto para passear! 
“E a cabeça? Como estava a tua cabeça?” Disse muitas vezes e, com toda a sinceridade, que não estava nervosa. Dormi bem durante a semana e não tive nenhum ataque de pânico ou arrependimento. Cheguei a perguntar se seria normal e disseram que sim, que era por estar bem preparada. Tinha para mim que estava anestesiada de todos os meses de treino ou banhada por estupidez natural. A partir de sexta-feira, comecei a receber mensagens a desejar boa sorte e aproveito aqui para pedir desculpa... desculpa a quem não respondi, mas vou explicar o motivo. Responder às mensagens estava a tornar tudo demasiado real. Li as mensagens todas, respondi a algumas e depois deixei de responder... Precisava de me concentrar, preparar a roupa, os abastecimentos, os acessórios e dormir! Pus o telemóvel em modo voo e deitei-me na cama.
Conhecem a música das Doce “uma da manhã...hey.... duas da manhã... hey”? Parei de ver o relógio ás 4h30. Deitei-me de barriga para cima, de barriga para baixo, de lado. Fiz a respiração abdominal, para diminuir a frequência cardíaca, que se aprende no Ioga. Nada resultou! Pensei “foi da quantidade de açúcar que comi hoje... isto é um sugar rush”... No meio desta vespertina toda, na minha cabeça passava em loop, uma música totalmente random - *Luísa Sonza – Good vibes* - se forem ouvir e prestarem atenção à letra vão perceber a ironia da coisa.
Dormir está sobrevalorizado... 7h30 toca o despertador: vamos lá fazer uma maratona! 
(continua...)

Eu e o Porto



*Keep your head up - Ben Howard*

Comentários

  1. Não percebo o problema da pala. (Não) dormir antes da primeira é da praxe também.
    Oh, e o resto? Venha de lá o resto do relato! :)

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  2. Passar fome na semana antecedente?! Calculo que estejas a ser irónica, só pode...certo que se tenha de ter alguns cuidados aliementares, mas eu sou apologista da massinha, muita massinha pois!

    Venha o resto da história. Isto soube a pouco...

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